Gurgel Motores |
Página Gurgel 800 |
Catálogo de peças BR-800/Supermini/Carajás |
Como funciona o sistema de ignição do motor Enertron |
Manual de serviços do BR-800 (1989) |
Jogo de juntas para motor Enertron |
Lista de peças equivalentes |
Numeração de terminais mais usados |
Peças e serviços |
Velas de ignição |
Sistema de ignição do motor Enertron |
Cálculo de velocidade |
Opinião |
Ler |
Assinar |
Comentários |
Créditos |
![]() |
![]() |
![]() |
https://gurgel800.com.br/publicacoes/quatrorodas/415/ |
|
Publicações - Quatro Rodas nº 415 de fevereiro de 1993 Ele chegou láPara o Gurgel BR-SL, "teste de longa duração" é uma expressão literal da verdade: entre quebras e paradas em oficinas, sua prova levou nada menos do que dois anos e cinco meses para ser completada. Isso acabou por penalizar o carrinho, uma vez que muitos componentes ficaram mais sujeitos ao envelhecimento do que ao desgaste. Mesmo assim, não há como relevar os superaquecimentos e outros problemas crônicos que marcaram sua existência na frota de QUATRO RODAS. Por este motivo, o veredicto só poderia ser um: reprovado. MOTOR Soluções criativas neste propulsor VW cortado ao meio Apresenta soluções inusitadas de projeto. É inspirado no motor do Fusca, cortado ao meio e refrigerado a água - por ironia, um de seus males foi o superaquecimento, que raramente acontece propulsores VW a ar. Ausente no popular criado por Ferdinand Porsche, a bomba d’água foi instalada de forma a ser ativada pelo eixo comando de válvulas, assim como a bomba de óleo. á o comando é acionado por corrente. Motivo: ampliar a distância entre ele e o virabrequim, a fim de proporcionar mais espaço às câmaras de água que envolvem as camisas de cilindro. O mais intrigante foi encontrar, no cárter, pedaços da gaiola do rolamento frontal do virabrequim. Será que essas aparas permaneceram lá desde os 8.883 km, quando o rolamento foi substituido? E, na troca dos anéis, aos 43.716 km, não se abriu o cárter? Em tempo: o rolamento tem uma folga substancial. Os anéis, com certeza, se quebraram devido aos superaquecimentos. São visíveis, nas camisas de cilindros, as marcas transversais típicas do travamento destas peças. Há, também, riscos no sentido do movimento dos pistões. decorrentes da ruptura dos anéis. A ovalização do primeiro cilindro chegou a 0,08 mm - excessivo, mas considerado normal pela fábrica, que tolera até 0,50 mm! Virabrequim, bielas, casquilhos e pistões estão com excelente aspecto: menos de 0,01 mm de ovalização nos munhões e 0,005 mm nos moentes. A conicidade, nos dois, não passou de bons 0,008 mm. Mas o desgaste no came de escape do primeiro cilindro é o pior entre todos os testes de 60.000 km: está 0,60 mm mais gasto que o came do segundo cilindro, que também revela sinais de desgaste.
CÂMBIO E TRANSMISSÃO Diferencial bem dimensionado, câmbio muito frágil Um motor que oferece torque e potência tão baixos não deveria acarretar maiores problemas ao câmbio e à transmissão. Infelizmente, o Supermini revelou justamente o contrário. O diferencial M26 da Albarus apresenta-se adequadamente dimensionado para o conjunto. Prova disto é que o par coroa/pinhão, bem ajustado, demonstra desgaste uniforme na face dos dentes, indicando contato homogêneo - nada de pitting, shear stress ou crack (respectivamente, descascamento superficial por excesso de pressão de contato; desgaste, localizado ou não, por atrito; e trincas na superfície). Em relação aos rolamentos do diferencial, trocados aos 27.474 km, tudo indica tratar-se de uma ocorrência espúria - uma fatalidade. Já o câmbio, que utiliza engrenagens e sincronizadores Ford, mostra desgaste acima do esperado. Destaque negativo para a luva de engate da lª, 2ª marchas e ré e para os dentes do engate da 4ª marcha (prise direta na engrenagem do eixo piloto, ou seja, engate direto dos eixos de saída e de entrada do câmbio). A face do platô da embreagem não deixa dúvidas: requer troca imediata. Está patinando e, ultimamente, era responsável por um incômodo ruído durante as trocas de marchas. O disco da embreagem contém marcas de contato irregular. Pode até ter sido prejudicado pela contaminação por óleo do motor, quando houve um vazamento pelo retentor traseiro do virabrequim.
DIREÇÃO, SUSPENSÃO, FREIOS Volante leve, estabilidade fraca, frenagem regular Suspensão e direção, embora bem dimensionadas para o peso do BR-SL, deixaram a desejar em estabilidade: a estrutura não permite bom grau de precisão na geometria das rodas, o que comprometeu o comportamento do veículo. Um importante detalhe negativo fica por conta da construção das mangas de eixo dianteiras. Soldadas à mão, necessitam de um gabarito melhor para evitar erros grosseiros como o encontrado em nosso exemplar: uma diferença de quase 6 mm na distância da fixação da bandeja superior ao tubo que a liga ao cubo da roda e à bandeja inferior. Os dois pivôs das bandejas inferiores estão com as coifas rasgadas. A do lado direito encontrava-se sem a cupilha de travamento; a do lado esquerdo recebeu um prego dobrado ao meio para cumprir, precariamente, essa função. Já os amortecedores não revelam vazamentos e ainda possuem carga razoável. E as buchas da suspensão resistiram bravamente ao teste. A caixa de direção apresenta folgas nas buchas do lado direito, o que provoca ruído e compromete a dirigibilidade. Há ruptura da coifa do terminal de direção do lado esquerdo. Desempenho regular e boa durabilidade descrevem o comportamento do sistema de freios. Ainda mais se considerarmos que grande parte do teste de longa duração cumpriu-se em centros urbanos - onde o desgaste dos componentes de atrito se acentua. As pastilhas originais, substituidas aos 40.496 km, duraram mais que o segundo jogo, que foi reposto na revisão de 60.000 km. Havia, porém, reclamações de chiados desde os 35.084 km, o que indicava necessidade de troca na revisão de 30.000 km. Tanto isto é verdade que as pastilhas chegaram aos 40.000 km quase comprometendo os discos, devido ao contato de metal com metal. O fluido de freio é um caso à parte. Necessitaria de uma análise mais profunda para verificarmos qual a causa de tanta absorção de umidade. Hipóteses: a água que espirra do pneu dianteiro esquerdo ou infiltração pelo capô, que não possui borracha de vedação na junção com o painel corta-fogo. De qualquer forma, o manual de serviços recomenda a substituição do fluido a cada 10.000 km ou um ano, o que primeiro ocorrer - e o serviço autorizado falhou.
SISTEMA ELÉTRICO E CARROCERIA O mau acabamento foi responsável por vários contratempos Falhas de acabamento não faltam a este carro: manivelas dos vidros e maçanetas emperradas, vedação deficiente e travas das portas defeituosas são ilustrativos. Mesmo assim, é interessante constatar a versatilidade da fibra de vidro em diversos componentes como forrações de portas, encostos dos bancos traseiros e painel de instrumentos. Mas o assentamento destas partes nem sempre é ideal, resultando em rangidos, fragilidade das fixações, encaixes e vedações ruins. Mesmo a aparência externa ficou prejudicada por ondulações e opacidade da pintura. A vantagem do uso da fibra consiste na imunidade à corrosão - exceto nos reforços estruturais, feitos de metal. Já a parte elétrica é um caos. Basta olhar por trás do painel de instrumentos, onde um sem número de chicotes amontoa-se desordenadamente, predispondo à ocorrência de panes. Em parte, a vedação ineficiente da carroceria prejudicou o sistema. Chamam a atenção as diversas lâmpadas queimadas de lanternas, sempre sujeitas à infiltração de água. o mesmo problema com lâmpadas de pisca se deve à má fixação: os parafusos de rosca soberba (ou auto-atarrachantes) estavam espanados, o que também propiciou a entrada de água.
CONCESSIONÁRIAS Rede de autorizadas encolhe ao longo do teste do Supermini Uma visita à fábrica e outras dezessete ao serviço autorizado marcaram a vida do BR-SL na frota de QUATRO RODAS. A avaliação foi, porém, prejudicada pela precária situação financeira da Gurgel: várias revendas fecharam suas portas no decorrer do teste.
Revisão de 2.500 Km - GURGEL TRADE CENTER Na primeira visita do BR-SL, trocaram óleo do motor e seu filtro e as juntas das tampas de válvulas e do coletor de admissão. Alinhamento e balanceamento foram feitos a contento. Boa revisão. 8.883 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA Nesta parada imprevista, várias reclamações: retrovisor interno e guarnição de borracha da canaleta do vidro esquerdo caídos, rádio com mau contato, alavanca de seta inoperante, fechadura da porta do motorista emperrada, coluna de direção solta. E o mais grave: rolamento frontal do virabrequim quebrado. O rolamento precisou de troca e as demais queixas foram sanadas. Revisão de 10.000 Km - COMÉRCIO DE VEÍCULOS R.F. LTDA Do plano de revisão, substituiram velas de ignição, filtro de combustível, juntas da tampa de válvulas, óleo de motor e aditivo do radiador. Dos pedidos que fizemos (regular tampa traseira e resolver o problema do pedal do acelerador, que enroscava), apenas o primeiro foi resolvido, pois a revenda não tinha a bucha do pedal. Tivemos de aguardar o envio da peça pela fábrica. Sua troca foi feita na garantia. 13.432 Km - GURGEL TRADE CENTER Um vazamento de combustível pelo bocal de abastecimento do tanque exigiu uma intervenção extra do serviço autorizado. Lá, constatou-se que havia um furo no reservatório, feito de plástico. Foi necessária a substituição do tanque. 14.687 Km - GURGEL TRADE CENTER Outra visita não programada: o plugue de ligação da ventoinha soltou, provocando superaquecimento do motor. Além disso, ele também morria em marcha lenta. Substituiu-se o plugue na garantia e regulou-se a marcha lenta. Revisão de 20.000 Km - GURGEL TRADE CENTER Havia as seguintes queixas: superaquecimento do motor, levantadores dos encostos dos bancos caídos, luz espia no porta-luvas afundada e banco do passageiro torto. O superaquecimento foi provocado por um fio do bulbo da ventoinha, desconectado. Aliás, o defeito ocorreu pela segunda vez: da primeira, a concessionária não fixara o fio firmemente. Trocaram, no plano de revisão, óleo e filtro do motor. 21.828 Km - GURGEL TRADE CENTER O motor ferveu novamente e, desta feita, soldaram o fio do bulbo da ventoinha. Arrumaram, também, a maçaneta da porta do passageiro, que caíra. 27.474 Km - GURGEL TRADE CENTER Esta parada foi a mais complicada nos 60.000 km do Supermini. Primeiro o levamos até a GTC, onde reclamamos: vazamento de água do vaso de expansão; ronco parecido com rolamento do virabrequim; maçaneta do vidro do motorista torta; vidros que subiam fora da canaleta; e rádio com mau contato. De 15 a 18 de junho de 1993, o carro ficou parado na oficina. Só então fomos informados de que a concessionária não dispunha de funcionários para executar um orçamento. Também não tinha peças de reposição. Por isso, sem que soubéssemos, levaram o carro até a fábrica em Rio Claro (SP). Lá ficou patente que o diferencial estava com problemas, pois foi todo ajustado. Trocaram rolamentos da caixa diferencial, do pinhão e do semi-eixo, retentores de roda e óleo lubrificante, além de sensor térmico, ventilador e aditivo do radiador. O BR-SL nos foi devolvido em 6 de julho. Revisão de 30.000 Km - GURGEL TRADE CENTER Cumpriu-se o plano de revisão: trocaram filtro e óleo do motor, filtro de ar, juntas das tampas de válvulas, filtro de combustível, aditivo do radiador e jogo de velas de ignição. O vidro do lado esquerdo. que subia desalinhado, teve sua canaleta mais bem fixada. 39.107 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA A bomba de combustível necessitava de troca. A revenda tinha a peça mas demoraria dois dias para fazer o serviço. Por isso. levamos bomba e carro para nosso consultor técnico efetuar o reparo. Revisão de 40.000 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA Todos os defeitos listados foram sanados. Substituiram a fechadura da tampa do porta-luvas, quebrada, as desgastadas pastilhas de freio e a lâmpada do brakelight, queimada, assim como as velas e seus cabos. O carburador, que falhava, mereceu atenção especial: recebeu novos diafragma, agulha, cápsula desafogadora e jogo de juntas. O cobrado foi executado, e a um preço compatível. 40.483 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA A ruptura do cabo do velocímetro levou o Supermini novamente ao servico autorizado, que efetuou a troca do cabo por outro original. E uma lâmpada de freio queimada foi substuída. 43.718 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA O vazamento de uma mistura de óleo com gasolina pelo bocal do carburador fez com que o Gurgel retornasse a concessionária fora do período de revisão. Foi preciso abrir o motor para a substituição do jogo de anéis. Conseqüentemente, trocaram também as juntas do cabeçote, da tampa de válvulas, do coletor e do cilindro. Um serviço bem executado. pois o carro saiu da autorizada em perfeito estado. 47.285 Km - YAMAUTO VEíCULOS E PEÇAS LTDA Devido a um acidente ocorrido com o Supermini durante uma víagem. efetuaram-se reparos na carroceria de fibra de vidro, mais especificamente no pára-lamas dianteiro esquerdo. Mais grave do que isso, porém, foi o comprometimento da suspensão dianteira, que exigiu a substituição de suas duas bandejas. Para a execução do serviço, o carro permaneceu internado durante dezenove dias na concessionária. Revisão 50.000 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA Nesta revisão, fez-se necessária a troca do coxim do radiador, que se quebrara, e do retentor do eixo piloto do motor, rompido. Conforme previa o plano de revisao, óleo e filtro do motor foram substituídos. Tudo realizado a contento. 56.305 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA Com filtro de ar solto e motor engasgando e sem marcha lenta, o BR-SL deu entrada na autorizada novamente. Foi preciso trocar a bóia do carburador. o jogo de cabos e fios de velas, mais o módulo de ignição e seu sensor. Em um dia solucionaram tudo, tempo considerado bom para o reparo feito. Revisão de 60.000 Km - YAMAUTO VEÍCULOS E PEÇAS LTDA Hora da última revisão do carrinho. Alguns componentes a serem verificados passaram despercebidos, como as velas de ignição: deveriam ter sido trocadas, pois estavam com uma folga de 1,10 mm nos eletrodos, quando o aceitável fica entre 0,6 e 0,8 mm. Também não regularam as válvulas. Por outro lado, cumpriram um importante item: limpar a membrana de celeron, que interfere no funcionamento da válvula do cárter. Gurgel: muitos planos para este ano A fábrica da Gurgel Motores S.A., localiza-da em Rio Claro (SP), trabalha em regime de concordata desde o plano Collor. Mas o dono da empresa, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, acredita que as perspectivas paral 1.995 sejam boas. Com o novo governo, a Gurgel pretende saldar a divida de 2,9 milhões de dólares e sair da incômoda situação. Enquanto isso, opera com quadro de funcionários reduzido de 1.150 para trinta pessoas, incluindo engenheiros de desenvolvimento e projeto, o pessoal de produção e do departamento administrativo. Por ora, fabrica o jipe Tocantins, que usa mecânica Volkswagen. O velho e conhecido BR-SL - idêntico ao de nossa frota - sairá de cena para dar lugar ao seu sucessor: o Supermini SL. Usando a mesma plataforma do modelo antigo, porém moldado em linhas arredondadas, o novo Supermini ficou mais simpático. Com aerodinâmica melhorada e entre-eixos aumentado, ganhou em estabilidade direcional. No interior, os passageiros de trás acomodam-se com mais conforto, pois o teto aumentou 10 cm na altura. O painel recebeu novas linhas e o sistema de ventilação é ajudado por um teto solar escamoteável, feito de lona. O motor passou por algumas modificações, com cabeçote redesenhado e válvulas de admissão maiores. Sua fixação é feita de forma pendular, com dois coxins aéreos. A suspensão dianteira não teve sua geometria alterada: novas bandejas e amortecedores recalibrados elevaram a altura do carro em relação ao solo. A previsão é fabricar 100 unidades por mês. Os planos não param por aqui. A Gurgel está desenvolvendo o Delta, um veículo misto (utilitário e carro de passeio) em que as partes móveis - como portas, pára-lamas e capô - são parafusadas à parte. Sua produção pode chegar a 5.000 unidades por mês, com preço de venda estimado de 4.700 dólares. Há também o projeto de um jipinho, o Supermil, que usará um motor de 1.000 cilindradas desenvolvido pela Gurgel. Com tantas novidades, a montadora conta com poucas revendas (cerca de sessenta) para atender ao consumidor. Pretende, porém, ampliar sua rede concessionária no decorrer do ano.
Desmonte FRINSON CONVENIENCE; Reportagem ANGELO TREVISO; Edição ELSIE ROTENBERG; Fotos ANTÔNIO RODRIGUES e ANDRÉ FORTES e Paginação ALBERTO LAGES e ONÉSIO JÚNIOR
Reportagem enviada por Roberto Rodrigues |