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Publicações - Quatro Rodas nº 336 (julho de 1988) Nas duras trilhas de um paraíso selvagemA poucos metros do asfalto de Nova Friburgo, uma aventura por morros, rios, pedras e lama, em busca da natureza escondida. REPORTAGEM DE RICARDO PANESA
Em meio a trilhas precárias e sob nuvens ameaçadoras, o solitário informante foi um verdadeiro achado. Seu Martins conhecia todos os caminhos da região, onde nasceu e se criou. - Lumiar? Vocês querem ir pra Lumiar? Não sei se está dando passagem. A dúvida do simpático velhinho não o impediu de compartilhar a cabina conosco. A carona iria lhe poupar uma boa caminhada. E lá fomos nós, um repórter, um fotógrafo, um valente Gurgel X-12 a gasolina e seu Martins, um personalíssimo passageiro movido a álcool.
Estávamos no meio de uma região polvilhada de lugarejos e acidentes geográficos, cujos nomes Sertão, Toca da Onça, Rio Bonito - são um eloqüente aviso do que o viajante terá pela frente. E tudo isso a pouca distância do centro de Nova Friburgo, esse pedaço do estado do Rio de Janeiro incrustado na Serra dos Órgãos... e que costuma integrar os mais tradicionais roteiros turísticos.
Nova Friburgo está para o Rio de Janeiro como Gramado está para o Rio Grande do Sul ou Campos do Jordão para São Paulo. Bastante acessível - a 150 quilômetros do centro do Rio de Janeiro -, é, juntamente com suas vizinhas Petrópolis e Teresópolis, um daqueles lugares onde o turista se põe a salvo da agitação dos grandes centros, sem normalmente renunciar ao conforto.
Dessa vez, porém, nossa ambição estava ligada a outro tesouro em que a região é pródiga, e que pode fazer o regalo de viajantes enfastiados dos roteiros turísticos tradicionais: as estradinhas de terra que cortam a região em todas as direções, levando a lugares muitas vezes omitidos nos mapas. Com o espírito de descobrir essas preciosidades, saímos numa manhã de São Paulo e, à tardinha, depois de 450 quilômetros de via Dutra e mais 150 por uma agradável estrada serrana, estávamos em Nova Friburgo. Já no hotel, em conversas com forasteiros e pessoas da região, começaram a aparecer dicas sobre recantos aprazíveis. Assim, antes mesmo de nos embrenharmos na rota que agora nos levava para Lumiar, não tínhamos resistido, no dia anterior, a uma incursão preliminar, em outra direção. Foram quase seis horas para cumprir o percurso de ida e volta que nos mostrou as maravilhas de localidades como Olaria, Cônego e Cascatinha. Subindo e descendo montanhas, atravessando vales e respirando o ar puro e gelado da manhã, seguimos por 32 quilômetros de terra. Entre visões de uma paisagem inacessível ao turista comum, o destaque dessa primeira jornada foi contemplar uma expressiva amostra da beleza natural da região - a cadeia de montanhas conhecida como Três Picos. As próprias reações de susto da fauna local nos sugeriam nossa condição de visitantes imprevistos e não muito bem-vindos. Quando decidimos ir até Lumiar, no dia seguinte, escolhemos uma entre as várias estradinhas que desafiam a garra dos veículos, formando ali uma pequena malha viária. Lumiar seria nossa meta final, mas conheceríamos também algumas outras jóias de lugarejos espalhados pelo caminho. Na saída, tomamos o asfalto da RJ-116, em direção ao Rio de Janeiro. Nove quilômetros adiante, junto à entrada do Hotel Garlipp (veja mapa), despedimo-nos do asfalto e mergulhamos em direção ao vale do rio Macaé. A chuva, que estivera prometendo vir desde cedo, não tardou a cair. Lama, subidas, descidas, buracos, pedras. Mas era isso mesmo o que a gente queria. QUANTO MAIS LONGE, MELHOR Logo adiante começamos a ver placas indicativas do Hotel Fazenda São João, conhecido na região por oferecer a seus hóspedes um exclusivo transporte de jipe, do asfalto à sede - um atestado da precariedade do caminho. Tudo bem. Nossas recompensas seriam outras, como a de desfrutar, quilômetros adiante, o singular cenário da Reserva Ambiental de Macaé de Cima. A chuva terminara, e o azul ia aos poucos reconquistando espaço no céu. Para o alto, enveredamos pela reserva adentro. Para baixo, no vale, acompanhamos o curso cristalino do rio Macaé, com suas águas geladas escorrendo entre as pedras.
Lumiar continuava sendo nossa meta, mas - felizmente - não havia um caminho reto até lá. Seguimos. Quando já tínhamos passado Rio Bonito, deparamos de repente com uma encruzilhada. Então, com um olho no céu, para ver se não vinha mais água, e outro no chão, para avaliar a qualidade do piso, vimos surgir seu Martins, com seu perfeito conhecimento da região.
Se quiséssemos, poderíamos ter optado, segundo ele, pela estrada "boa" que liga Rio Bonito a praticamente todas as vilas espalhadas pelas proximidades. As variantes de terra, no entanto, é que nos interessavam. Seu Martins entendeu o espírito da empreitada e nos deu a grande receita: seguir o leito do rio Bonito até a região de Sertão. Décadas atrás, essa área foi propriedade de um francês, que a tinha como seu reduto predileto para a prática da caça.
De lá seguimos para Toca da Onça - um lugar que parece ter tirado seu nome da natural associação entre o desafio de sua topografia e a única arma capaz de vencê-la em outros tempos: a agilidade dos felinos. Rios, riachos, lama e erosões antecederam então nossa chegada a Lumiar, próxima à desembocadura dos rios Bonito e Macaé, onde descobrimos um conjunto incrível de cachoeiras e piscinas naturais.
Lumiar é uma cidadezinha simpática e simples, com boas opções de comida caseira e pernoite em pousadas e pensões. Nós desfrutamos dessa acolhedora singeleza e ainda nos animamos a conhecer mais três lugarejos a seu redor. São Pedro da Serra, distante apenas 4 quilômetros e mística por excelência, vem sendo cada vez mais procurada por caçadoras de objetos voadores não identificados (OVNI's). Lua cheia, friozinho gostoso e, na ausência de contatos imediatos com seres extraterrestres, optamos por chegar também até as vizinhas Boa Esperança e Sana, onde efetivamente nossa viagem terminou. Mas, para quem dispusesse de mais tempo, as opções continuariam. Ao norte, depois de Sana, pode-se seguir em direção à pequena vila do Frade e, de lá, até a Vila da Grama, na região da represa do rio Macabu.
Quem preferir o mar, pode seguir em direção a ele, passando por Cachoeiros e Casimiro de Abreu, uma das mais tradicionais trilhas dos enduristas cariocas. Por esse caminho chega-se a Barra de São João e Rio das Ostras, já no litoral. Ao sul, passando por Quartéis, Correntezas, Gaviões e Japuiba, atravessam-se montanhas e se atinge o vale do rio São João. Direções diversas e um ingrediente constante - o reencontro com a natureza.
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