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Publicações - Quatro Rodas nº 251 de junho de 1981
Gurgel Itaipú E-400 elétrico
(páginas: de 64 a 66)


Sem fumaça, sem ruído:
Assim anda o Itaipú

O Itaipu E-400, o carro elétrico produzido pela Gurgel, é tão fácil de dirigir quanto um veículo convencional. Seu desempenho é modesto, mas compatível com o uso no transito urbano.

REPORTAGEM DE CLÁUDIO CARSUGHI – FOTOS DE CLÁUDIO LARANJEIRA


Itaipú E-400 Elétrico
Até chegar ao design final do Itaipú a Gurgel gastou 8 anos em projetos.
O modelo que Quatro Rodas experimentou foi o primeiro a ser produzido e entregue para uso normal, e hoje está a serviço da empresa concessionária de energia elétrica de Brasília.

Você senta, pega o volante nas mãos, solta o freio de estacionamento, pisa no acelerador e o carro sai – silenciosamente. Isto é o que normalmente ocorre com os veículos elétricos. O Itaipu E-400, construído em Rio Claro pela Gurgel, difere um pouco deste esquema. Pela presença dos três pedais (acelerador, freio e embreagem) tradicionais, tipo Volkswagen, ele lembra muito mais um carro convencional do que um elétrico.

Mas, uma vez em movimento, seu silencio é o mesmo, e a impressão de que é necessário acionar mais freqüentemente a buzina para advertir os pedestres que não ouvem sua aproximação, idêntica.

Para fazer funcionar este E-400 é preciso mover, de trás para frente uma alavanca situada entre os dois bancos dianteiros (esta alavanca serve para ligar todo o sistema, depois abaixa-se o pedal da embreagem (sem isto o motor não pega), liga-se a chave de contato e o carro está pronto para andar. Apertando-se o acelerador com um pouco mais de força do que se faria num carro convencional, e soltando-se o pedal de embreagem o veículo começa a rodar.

A seguir, a troca de marchas (são, ao todo, quatro para a frente e uma à ré) processa-se normalmente – é um cambio VW comum –, bastando ter o cuidado de dar um certo tempo para o engate da marcha a fim de evitar um pequeno tranco, pois o motor não cai de rotação tão rapidamente como o motor a gasolina.

Uma vez em movimento, o E-400 comporta-se como um carro convencional, tanto no que diz respeito ao motor, de 10 kw ao regime de 3 000 rpm e com um consumo médio de 0,4 kwh/km, como a todos os demais componentes, originários de produção normal de Volkswagen, o que, além de facilitar a reposição em caso de quebra ou desgaste, reduz seu custo industrial.

Assim, afora o silencio, a impressão é a de estar guiando um carro convencional, de 3,82 m de comprimento, 1,63 de altura, ao que se soma uma reduzida potencia a um elevado peso total, 1470 kg.

O Desempenho

O desempenho do E-400 não é nada que entusiasme, mesmo porque ele não foi projetado para alcançar grandes marcas. Assim, após uma aceleração inicial razoável até por volta de 35 km/h, ele começa a demorar para atingir a sua velocidade máxima, que se acha por volta de 70 km/h. Mas isto é apenas um detalhe, pois o desempenho é tão pouco visado que existe até mesmo um cômodo limitador da potencia fornecida pela bateria, que é ligado por meio de uma chave no painel, para impedir que o veículo chegue a mais de uns 45 km/h.

Esse sistema é cômodo e útil naquele em que, em nossa opinião, é o melhor campo de uso deste E-400: o transporte urbano. Utilizando-se este limitador na cidade, a autonomia deste veículo conseqüentemente cresce, assim dos 80 km previstos, pode-se chegar a mais de 100 km. Testes realizados pelo fabricante indicaram uma autonomia de 127 km na cidade sem recarga.

Naturalmente esta marca foi obtida com uma forma de dirigir particularmente cuidadosa, e assim representa um limite que dificilmente o motorista comum conseguiria atingir. Mas serve para dar uma idéia efetiva da autonomia do E-400.

Essa autonomia naturalmente pode ser incrementada por pequenas recargas, durante as interrupções de sua utilização. Assim, por exemplo, uma parada de duas horas para almoço pode servir para recarregar as baterias que estejam pelo uso anterior com cerca de metade de sua carga (a recarga total se efetua num período de oito horas, e pode ser feita à noite, pois em alguns locais a eletricidade é mais barata durante o período noturno).

Para recarga total ou parcial, é suficiente ligar um plug existente na carroceria, perto da porta do motorista, a uma tomada doméstica, sem qualquer outra operação.

Compartimento de cargas
O acesso ao compartimento de cargas
é feito por uma única porta lateral

Interior
A cabina, confortável,
tem um painel simples
e acabamento bem sóbrio

Duração das baterias

Um dos pontos que penalizam economicamente o veículo elétrico tem sido o número de recargas admitidas para as baterias. As do E-400 – duas unidades de 175 amperes/hora tipo chumbo ácido –, iguais às usadas em auto-tração, como, por exemplo, empilhadeiras, suportam de acordo com as especificações da fábrica 800 recargas, número que que pode aumentar se, durante seu uso, não se deixar que se descarreguem totalmente. Assim, admitindo-se um uso diário do carro, pode-se chegar a três anos antes da necessidade de trocar as baterias.

Esse fato é muito importante, pois o conjunto de baterias custa cerca de 25% do preço do veículo elétrico. Em termos atuais, o preço aproximado de E-400 é Cr$ 900.000,00 as baterias custam Cr$ 222.000,00. Para evitar o problema de uma despesa elevada, contudo, é pensamento da Gurgel estabelecer um sistema de leasing para as baterias: elas seriam trocadas, ou diariamente ou após determinado período de uso, contra o pagamento, pelo dono do carro de uma quantia pré-fixada.

Parece-nos que o sistema constitui brilhante solução para o problema, sobretudo quando o carro começar a ser vendido também a particulares.

O mercado visado

Inicialmente o E-400 será reservado a companhias estatais, o que permitirá à Gurgel receber e avaliar uma série de informações relativas ao uso, comportamento, consumo e desgaste dos seus veículos de fontes mais confiáveis do que os usuários comuns. Outra vantagem dessa análise é a de que ela se estenderá por uma quilometragem maior, e eliminará, pelo uso de muitos veículos no mesmo tipo de serviço, qualquer anomalia atípica. Mas logo depois é pensamento da Gurgel abrir a venda do E-400 para o público em geral, o que poderá ocorrer ainda este ano.

Para o público, além da versão furgão que serviu para essas “impressões ao dirigir”, serão oferecidos mais dois modelos: uma picape, de grande utilidade para cargas leves(sua capacidade é de 400 kg), e uma perua para cinco pessoas. Será esta última versão, naturalmente, a que atrairá maior interesse dos que buscam um meio mais econômico de transporte urbano.

O E-400 é, em nossa opinião, fruto de um design particularmente feliz e as fotos, de uma forma geral, não lhe fazem muita justiça – ao vivo, a impressão que ele dá é mais agradável: a de uma van, em tamanho um pouco menor, com uma frente agressiva, lembrando alguns trens de alta velocidade, e uma relação altura/largura que parece achatá-lo ao solo. Pensamos até mesmo que uma versão com motor tradicional (a gasolina ou álcool), poderia ganhar, sem muito esforço, sua fatia no mercado nacional. Principalmente por causa de sua capacidade de carga, que poderia ser superior a uma tonelada com a eliminação de todo o atual conjunto de baterias.

Conclusão

O carro elétrico da Gurgel hoje uma realidade indiscutível. O seu desenvolvimento remonta a 1973, e o seu primeiro protótipo foi apresentado em 1974 (hoje ornamenta o salão de entrada da fábrica, em Rio Claro).

João Gurgel
João Gurgel: o velho sonho, agora real

Pelas suas características será sempre um carro de uso preponderantemente urbano, no qual a elasticidadede marcha vale muito mais do que o desempenho em termos absolutos. E com a facilidade de poder ser recarregado onde existir uma tomada elétrica, sem necessidade, durante isso, nenhuma atenção.

Para seu uso por frotas, a eventual substituição do conjunto de baterias não apresenta qualquer problema de ordem comercial. Para o usuário comum, a idéia do leasing das baterias nos parece ser a solução mais indicada. E, para todos, a inexistência de qualquer necessidade de regulagens freqüentes do motor a gasolina ou a álcool, representa uma vantagem, tanto no aspecto econômico como no de tempo ganho.


Reportagem enviada por Luiz Ribeiro


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