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Publicações - Oficina Mecânica nº 15 Gurgel 280: O "made in Brasil"Este modelo, prometido para breve, será pouco potente, mas econômico: 25 km/litro e velocidade final de 110 km/h. REPORTAGEM: RICARDO CARUSO A Fiat é italiana. A Ford e General Motors, norte-americanas e a Volkswagen, alemã. E o Brasil? Aqui nós temos Gurgel. Essa e uma das maiores empresas de veículos 100% brasileira. E resultado direto da obstinação de seu proprietário, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, que começou, conforme ele mesmo conta, "num fundo de quintal como toda boa fábrica de automóveis que se preza". O inicio foi em São Paulo, no começo dos anos 70, com rústicos jipes de fibra de vidro, o Xavante, e mecânica Volkswagen, que logo se celebrizaram pela qualidade e eficiência. Logo aquele "fundo de quintal" ficou pequeno, e a Gurgel mudou-se para Rio Claro (SP), onde permanece instalada até hoje. Os anos passaram e os produtos evoluiram: hoje eles são encontrados circulando por inúmeros países, principalmente no Caribe. Aliás, existe uma ilha nessa região onde circulam apenas três mil carros, dos quais mais de dois mil são Gurgel, conforme o fabricante. Comenta-se que lá é o único lugar do mundo onde acontecem batidas de um Gurgel com outro... Do velho "jipinho" Xavante ao luxuoso Carajás, a empresa lançou durante esse período os modelos X-12. ainda em linha; o mini-carro Xef e o revolucionário Itaipú elétrico. Mas a grande "cartada" está ainda para ser dada. Depois de quase dois anos de trabalho duro, está nascendo o grande sonho de Gurgel: o Carro Econômico Nacional, que deveria se chamar CENA (abreviatura de Carro Econômico Nacional). Mas a confusão fonética como nome do piloto Ayrton Senna criou alguns embaraços para a empresa, que já rebatizou o carro de Gurgel 280. Ele terá ainda as versões S (Sedan), M (Múltiplo), F (Furgão) e C (Caribe). O CARRO URBANO O Gurgel 280 é baseado num conceito de carro urbano: pequeno, leve e ágil, com manutenção e consumo de combustível baixos. Só que, de acordo com as pesquisas da empresa, um carro apenas urbano (só para uso em cidade) não teria a mesma aceitação de um outro que pudesse ir tranqüilamente para a estrada. Por isso, ao invés de apenas dois lugares, o carro ficou com quatro. O motor terá um sistema digital de ignição, Todo o projeto visou a fabricaçao em escala industrial, ou seja, da maneira mais barata possível. O resultado foi um carro espartano, sem nenhuma sofisticação, mas não mal acabado. Tudo nele é simples e funcional sem nenhuma espécie de luxo ou supérfluos. Foi usado ainda o maior número de peças normais de mercado, encontradas em outros carros de linha. Uma forma de baratear os custos finais a níveis extremamente baixos. Assim, as lanternas são as do Gol até 86, as dianteiras são as mesmas da Brasilia após 78, a fechadura externa é a interna usada na linha Volks, e assim vai.
Mas as grandes novidades estão mesmo na parte mecânica do carro e suas boas soluções, que permitiriam a fabricação de um veículo simples, barato e fácil de manter, conforme espera o fabricante. MOTOR - Instalado na dianteira com 650cc ou 800cc. A princípio pensou-se em usar o motor do Citröen 2CV, mas não foi possível firmar um acordo com a fábrica francesa, devido à instabilidade econômica do Brasil, que assustou os dirigentes estrangeiros. Estes até chegaram a sair da França para vir aqui, mas não entenderam o que vem a ser correção monetária. Aí, Amaral Gurgel pensou num motor refrigerado a água, com camisas de aço revestidas de borracha, mas não encontrou uma borracha resistente: qualquer óleo que caísse na água atacaria o material, provocando vazamentos, que poderiam levar o motor a danos irreversíveis. Foi escolhido afinal um motor dois cilindros opostos (boxer), refrigerado a água e com camisas de ferro (como os convencionais). Trata-se do quase meio motor Volkswagen (chegou-se a testar essa solução mas não deu certo).
O motor é inteiramente fundido na Gurgel, cem uma unidade fabril inaugurada em julho, e como forma de barateamento usa pistões, bielas e anéis Volkswagen 1.300 na versão do motor de 650cc, e de Escort no motor de 800cc. O bloco é feito em alumínio silício e pesa apenas 7,8 quilos. Tem 26 HP na versão 650cc e 32 HP no modelo de 800cc. A velocidade máxima é em torno dos 110 km/h e tem ainda um sistema de ignição inédito e bastante sofisticado, que utiliza um microprocessador no lugar da ignição eletrônica normal, trabalhando de maneira digital. Entre as vantagens dessa nova ignição estão o aumento do potência e diminuição de consumo, com menores índices de poluição.
A princípio, o carro terá carburador único e o alternador não é uma peça isolada instalada nele, e sim um conjunto que já faz parte do bloco, inclusive com seu alojamento fundido nele e acionado diretamente pelo virabrequim. O combustível será apenas gasolina - Gurgel é contra o álcool - e o consumo está na casa dos 25 km/litro obtidos à velocidade de 80 km/h, segundo a fábrica.
CÂMBIO - Foram desenvolvidos dois sistemas de câmbio para o carro, ambos com quatro marchas á frente mais ré. O primeiro, que será aplicado no carro, utiliza o sistema de sincronização normal dos carros comuns, enquanto um outro sistema, ainda não aprovado, é mais complicado e semelhante ao jã usado nas motos BMW e carros NSU: o engate será diferenciado e a quarta marcha atuará direto no diferencial sem nenhum tipo de desmultiplicação. Isso chegaria a proporcionar melhor consumo de combusúvel. A tração será traseira, por ser mais simples e barata. O conjunto de câmbio é todo produzido pela Gurgel. CHASSI - O chassi do Gurgel é uma estrutura tubular tipo gaiola, onde vão alojados todos os componentes mecânicos e carroceria. Apesar de ser de aço, pesa apenas 42 quilos. Faz parte do esquema de segurança do carro, por transformá-lo numa estrutura pouco deformável pelas características de construção desse tipo de chassi. SUSPENSÕES - Na traseira, um sistema normal de feixe de molas, mas na dianteira uma grande novidade. Não existem amortecedores, e esse trabalho é feito pelo braço superior da suspensão, que é fixado ao chassi com arruelas de amianto: o atrito entre elas é que faz o amortecimento. O conjunto dianteiro tem ainda duas molas helicoidas, com regulagens de tensão para piso bom ou irregular. CARROCERIA - Outra solução interessante, As carrocerias de todas as versões têm suas partes feitas em plástico injetado também resistente, já pigmentado na cor do carro. Isentas de corrosão e manutenção, em caso de acidente simplesmente substitui-se a parte afetada, como um pára-lama, por exemplo. A ausência da etapa de pintura na montagem do carro também barateia seu custo. O plástico será produzido no pólo petroquímico Camaçari.
DETALHES - O Gurgel 280 conta ainda com faróis retangulares, freios a disco na dianteira o a tambor na traseira, bancos mais finos para ganhar espaço interno, grade de arrefecimento do lado esquerdo do painel frontal, vidros planos e com abertura por sistema de correr e calotas plásticas. As rodas serão de aço com pneus radiais. O carro terá 3,15 metros de comprimento, 1,40 de altura, 450 quilos de peso e tanque de 40 litros. Até o final do ano estarão circulando cerca de 50 protótipos do Gurgel 280, que estará disponível ao público a partir do primeiro semestre do ano que vem, com produção estimada em 10 unidades/dia, podendo chegar a 200 carros/dia em três ou quatro anos. O melhor de tudo parece ser o preço: o primeiro veículo inteiramente nacional está cotado entre 2.500/3.000 dólares. Cerca de 30% mais em conta que um Chevette, por exemplo, até agora o carro nacional de linha mais barato.
Reportagem enviada por Germano Caldeira
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